Quando somos adolescentes, sonhamos em ser professoras, porque nossos pais nos passaram a idéia de que nós temos que estudar para sermos gente, e gente para os mais antigos é ser professor. Este guardião do saber que transforma vidas humanas tinha o poder de seduzir o governo com altos salários naquela época, eis a razão do porquê os pais serem tão influentes na escolha da nossa profissão.
No entanto, hoje está meio que depreciado ser professor, pois a categoria não é bem remunerada e fica a mercê do governo para que seja reconhecida como uma classe trabalhadora que se iguala à dos peões.
A única diferença entre as duas classes de trabalhadores é que a segunda não tem a qualificação profissional adquirida nas universidades e muitos são até mesmo iletrados, trabalham de sol a sol e tem sua jornada cumprida no fim do dia, com direito ao rango e a um pequeno descanso no meio dia, voltando cedo da tarde pra casa ou às vezes à noite.
Durante sua rotina de trabalho, eles se juntam ao grupo e mantêm uma relação da boa amizade, conversam entre si, utilizando sua própria linguagem (coloquial), muitas vezes, adicionam no vocabulário deles palavras chulas e de muito gracejo para quebrar o gelo e ainda são felizes! Há muitos que lamentam sua sorte e dizem “Por que eu não estudei?” “Hoje eu seria um doutor”.
Vejam, bem, caros leitores, como nós andamos perto de sermos tão iguais. Vou contar-lhes a rotina de uma professora de inglês que mora no Conjunto Ceará e trabalha no município de Horizonte.
Vou preservar seu nome, por motivos éticos e profissionais porque pertenço a mesma categoria. Essa pessoa acorda às 4:00 da manhã todos os dias e a partir daí então, ela começa a cronometrar suas atividades em relação ao tempo.
Vai ao banheiro, vai na cozinha e prepara o alimento para se servir no município porque este não dá refeição para o trabalhador, segundo eles, este se quiser que se vire, porque não estava no edital do concurso a promessa garantida de vale-refeição.
Ela volta da cozinha e abre o guarda-roupa e começa a se vestir. Ainda faltam 10 minutos para sair de casa, então ela olha a bolsa e tira seu dinheiro do ônibus e começa a se pentear, porque esse penteado é o primeiro do dia e único, pois no trabalho, ela não tem tempo para cuidar do visual.
Ela ainda tem um tempinho para conferir as coisas que ainda faltam ser levadas, como por exemplo, as tarefas que não pôs na bolsa na noite anterior por esquecimento. Então são 4:30 e ela acorda o marido para que este a acompanhe até à parada do ônibus que fica bem próximo de sua casa, porém muito perigosíssima, pois os ladrões parecem ter um radar que atrai quem tem celular dentro de bolsas e eles também se sustentam nas drogas e não dormem, virando bicho durante o dia e a noite.
Ao chegar na parada do ônibus, ela se aproxima do mesmo grupo diário de peões que seguem o mesmo destino que ela, rumo ao terminal de ônibus de Antônio Bezerra, justo o nome do próprio ônibus.
Ao chegar no dito terminal, isso já são 5:00 horas em ponto ou menos apenas 10 minutos, dependendo da velocidade do ônibus anterior, ela apanha o segundo transporte Antônio Bezerra UNIFOR e este a levará até a avenida Domingos Olímpio.
Nesse ínterim, ela cochila dentro do ônibus com um olho só, sendo surpreendida ao passar da paradà às vezes quando está realmente muito cansada. Ela chega na avenida âs 5:20 minutos e ao chegar lá, ela senta-se à mesa de uma lanchonete que atende a cachaceiros e malandros que fumam e ainda tem um fedor característico da falta de higiene por parte do proprietário, cujo nome não posso apontar, também por motivos éticos.
Ela toma um cafézinho com leite quentinho nesta mesa e ao seu redor, ela vê um bando de pessoas que trabalham para o jornal O POVO, empacotando os jornais em sacos pláticos, preparando-se para seguir viagem em suas motos e bicicletas, orientados por um coordenador que também vira peão junto com os demais. Todos eles conversam alto e falam palavrões, são um tanto engraçados e gozadores dos outros para quebrar o gelo da madrugada. Às vezes o momento é tocado por muitas chuvas que rolam ao redor, molhando alguns jornais.
Pois bem, essa professora toma seu café e de repente, ao raiar do dia, começam a chegar alí os demais professores que logo vão formando filas para entrar na condução que vai lhes deixar juntamente com essa professora até o município do Horizonte. O ônibus chega exatamente faltando 10 minutos para às seis horas da manhã e este ao chegar, os professores cuidam logo na entrada pegar o melhor banco e a competição para pegar o lado da janela é ostensiva. Tudo isso para que se possa apoiar a cabeça no vidro da janela e dormir uma hora de sono até Horizonte, pois o percurso até lá dá exatamente nesse tempo.
Ao chegar em Horizonte, essa professora sai a procura de um quarto transporte, um micro-ônibus do próprio município que vai conduzí-la até o distrito desse dia em que ela vai trabalhar, lembrando que ela trabalha em 4 escolas de tempo integral de segunda à sexta feira e as escolas estão distribuídas em 4 diferentes distritos, cada um mais longe do que o outro em relação ao centro da cidade. Na segunda-feira, ANINGAS, na terça-feira, CÓRREGO DAS QUINTAS, na quarta-feira, CATU, na quinta-feira, JENIPAPEIRO e quando é exigido pela diretora desta última escola, onde ela está oficialmente lotada pela secretaria de educação do município, ela volta na sexta-feira para cumprir planejamento semanal, que é pura balela. Na verdade, a diretora lhe ocupa com outras funções dentro da escola, ficando assim o planejamento para ser feito em casa no seu final de semana.
Voltando a falar de sua rotina, ao chegar no distrito de origem do trabalho, ela segue imediatamente para a sala de educação infantil e a diretora e nem ninguem da secretaria tem perguntado às criancinhas se elas estão interessadas em estudar inglês muito menos se elas estão aprendendo. Imaginem que ela nem tem formação pedagógica, pois fez o concurso para ensinar a partir da 6ª série à 9ª , mas por falta de local para lotar suas 200 horas letivas, a impuseram que trabalhasse no projeto de inserção da língua inglesa nestas escolas integrais.
Muito bem, deixemos as criancinhas de lado e vamos falar o que ela faz em seguida depois que termina sua aula com as criancinhas que não identificam nem letras, onde o educar é baseado apenas em conversações, amostras de figuras, canções e muita ludicidade, imaginem a zuada e a paciência que se deve ter com os pimpolhos que são terrivelmente chatos de se lutar.
Bem, depois dessa aula que dura em torno de uma hora mais ou menos, vem o recreio das crianças que a mesma é escalada para vigiar, vejam bem, se houver alguma coisa com qualquer aluno, a culpa vai recair nela que não olhou o recreio com atenção e zelo. Depois do recreio, ela vai para outra sala de aula, que pode ser entre 1ª série e 2ª, dependendo do horário criado por cada direção. Ela dá aula nesta turma por mais uma hora e tem que aguentar muitos gritos e agitações dos guris que acabam de chegar do recreio e estão todos com o cão nos couros, como diziam os antigos, Não é fácil tolerar uma turma de agitadinhos, é necessário improvisar atividades que os faça relaxar ou então temos que ser drásticas e cobrí-los de carões, fazendo-os obedecerem às normas de convivência da escola que são poucos que acatam, pois muitos deles levam anos para se adaptar ao ambiente escolar.
Existe um momento então para o banho das crianças. Estas pegam suas toalhas, sabonetes e cuecas e calcinhas e se dirigem em filas para seus respectivos banheiros. Banham-se e voltam pra sala de aula. Em seguida, formam outra fila, sempre auxiliados por professores e seguem para o refeitório. Eles têm almoço e escovam dentes e ems eguida, chegam a sala prontos para um simulado e mentiroso descanso, pois os mesmos entendem que é mais um momento de brincadeira, pois vão ficar sem obrigações escolares.
A professora referida aqui não consegue descansar pois as crianças, como já foi mencionado antes, não dormem, apenas deitam-se e ficam insultando as outras , saem dos seus lençóis para mexer e arengar com os outros, não há voz que as amedrontem, pois elas tem a confiança nos seus direitos e ficam cada vez mais donas de sí sem medidas.
Eis que a professora até aqui não tem repousado e suas refeições são feitas em tempo esgotado. Ela é a última a comer e sempre pega o comer do fundo da panela, pois ela é pau pra toda obra como diz o ditado. Às vezes falta professores neste dia na escola e ela é escalada para vigiar as crianças de uma determinada turma com exclusividade. Às 13:00 a capainha toca avisando final do descanso. Isto é hora das crianças irem ao banheiro e beber água. Professora não tem vez, vai já nas últimas e às vezes não encontra um pedaço de papel higiênico e encontra os banheiros todos mal-cheirosos. Temos que levar os alunos a ter seu segundo lanche do dia e então faz-se filas novamente. Ao chegar em sala de aula, a professora toma uma terceira turma e dá aula até às 14:00 horas e ao terminar, segue para a quarta turma e vai até às 15:00 h. Agora é hora de recreação novamente e a professora leva as criancinhas para o terceiro lanche e depois para o recreio. Olha o recreio novamente com responsabilidade e aproveita para procurar um cafézinho na cozinha da escola para espertar o sono e o cansaço, porém às vezes, não há café, pois as cozinheiras adotam um cardápio de servir a mesma sopa de feijão ou das sobras do frango ofertada no lanche das crianças para os professores.
Cruel é que ela marca o tempo no relógio e aguarda dar as 16:00 em ponto, hora em que as crianças tem saído do último recreio e as atividades do dia tem se encerrado e agora é hora de banhar novamente as crianças, arrumá-las e penteá-las para embarcá-las no ônibus de volta para suas casa. Segunto relato dessa professora, quando as crianças seguem no seu ônibus, o transporte que conduzirá os professores de cada localidade de volta para o município chega às vezes muito atrasado e no inverno até atolam nas lamas dos caminhos que não são asfaltados.
Este chega por volta das 16:30, faz um rodízio por outro escola pegando mais professores e alunos. A estrada é ruim e os balanços do carro são inevitáveis, os seios querem pular do sutiãn, o corpo todo estremece e o vozeirão dos professores dentro do carro alegres por mais um cumprimento de uma jornada feroz fazem essa professora ficar cada vez mais indignada pela sua situação.
Formada pela univerdiade estadual do ceará, com título de specialização e a caminho de conclusão do mestrado, vivendo um drama de sofrimento por paixão à profissão e por necessidade de ter em suas mão todo final de mês, mil e poucos reais no contra-cheque.
Muito bem, continuando, ela chega em Horizonte às 17:30, pega o cambão com destino à Fortaleza sua terra dormitória e faz o percurso que fez pela manhã, sendo que o coletivo que a deixa em sua casa está super lotado pois é horário de pico, a peãozada está de volta para suas casas. Ao chegar em casa são exatamente 19:30 minutos e mal consegue subir os degraus de sua casa para chegar à sala principal. Encontra o esposo aposentado vendo TV e aperta sua mão, perguntando-lhe como foi o dia e se tudo correu bem na família e na casa. O marido lhe traz o jantar depois de seu banho e esta senta-se em frente ao computador para ver suas mensagens e deita, às vezes cai dormindo sobre os papéis ao ler algo relacionado com seu trabalho.
Aos sábados, ela segue o mesmo destino no mesmo horário para o mesmo município para dar aulas de inglês na FISK. Passa o dia inteiro dando aulas em 4 turmas, com descanso apenas para o almoço e chega em casa às 20:30 minutos.
No domingo, fica planejando aulas e tentando escrever seus textos para o mestrado. Sem tempo para a família, deixa de participar de festas de aniversário, não sai com frequência para se divertir e não tem tempo para cuidar da saúde. O bico chamado FISK é para melhorar o lado financeiro dos gastos da família e pouico gasta com vaidade, pois não tem tempo para vaidade. Sua via sacra é tão ardida que nem vê o tempo passar. Aguarda aposentadoria, mas infelizmente agora é que vai sair do probatório neste município. Lembra com saudades dos tempos que viveu como contratada temporária pelo ESTADO que durou aproximadamente 12 anos intercortados por suspensões temporárias de lotações. Ela conta com esse tempo para se aposentar, mas vê o grande vilão pela frente que é a diminuição do seu salário logo após a aposentadoria.
Tentou fazer vários concurso com fins na melhoria de sua vida profissional, mas infelizmente fora vencida pelo cansaço e não se aprovou em nenhum deles. Pensa que antes de cumprir sua missão na terra, ainda vá poder escrever o livro de sua vida, ver seus guardados que lembram seus antepassados, olhar sua casa com mais carinho e curtir netos e bisnetos.
Ocorre que o tempo passa por ela e a mesma pressente que junto com ela as coisas também vão morrendo. Tudo vai ficando velho e ultrapassado. Sente vontade de costurar, voltar a fazer croché como antigamente, ouvir músicas internacionais e nacionais, sair de sua casa e visitar os amigos, mas essa cultura está acabando. Ninguém mais quer ser visitado, ninguém mais vai poder lhe dar atenção pois vivem a mesma rotina que ela, ninguém mais ouve músicas, apenas vêem TV, usam computadores e dão atenção aos celulares, ninguém mais costura, se compra tudo pronto nos shoppings centers da cidade em preço baixos.
Enfim, Deus a protegeu até aqui, o que se espera é que, indepedente da vontade dele, a professora ainda espera por dias melhores de sua vida, resguardada nos princípios de sua criação. Com fé em Nosso Deus, ela vai longe. Não muito longe, até que a profissão de professor seja extinta no nosso país. Agora imaginem vocês vivendo um drama semelhante ao dessa pessoa. Você quer isso para sua família, seus filhos e para você? Quem quer ser professor? NINGUÈM. Oh, profissãozinha dolorosa e espinhosa!! E a valorização? NUNCA.
Agora, seria ótimo que as autoridades reconhecessem o sofrimento de um profissional da educação e mudassem essa política nojenta de salários baixos desvalorizados àqueles que são agentes da transformação de uma sociedade como um todo, inclusive de seus próprios filhos.
Esse texto nos serve aqui como uma crítica ao público que possa servir de reflexão para o assunto relacionado à docência no país e às poucas oportunidades de ascensão profissional. Não adianta ter título de mestrado no município se a professora, aqui falada, não teve oportunidade de crescimento em sua área, trabalhando com crianças.
Revejam então as consequências do mal desse trabalho, segundo essa professora, ela já teve em 2010 todas as doenças que terminam em –ITE, como gastrite, fascite plantar, tendinite, entre outras. Até bicho de pé ela pegou no município, fora o inchaço de suas pernas por ficar bastante tempo de´pé. Então, o que vocês acham da profissão de professor? Comentem essa matéria aqui publicada. Aguardo seus comentários. BYE BYE!!!!
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