seg, 05/07/10
Não quis escrever ontem sobre o novo técnico da seleção brasileira, por achar que ainda havia muita especulação e pouca informação. E valeu a pena esperar. Acabo de assistir à participação de Ricardo Teixeira no Bem, Amigos, e agora há mais o que falar. Na entrevista, ficou claro que a CBF já tem um projeto para a seleção de 2014, e é nele que se baseará a escolha do sucessor de Dunga – de quem o próprio Teixeira mostrou ser crítico em duas respostas, uma sobre o nervosismo dos jogadores no segundo tempo da partida contra a Holanda e outra em que comparou sua escolha a um voo sobre o Atlântico: “Chega um momento em que não dá mais para voltar atrás, é preciso atravessar”.
Minha maior preocupação, desde ontem, era que a escolha do novo treinador se desse pela contradição, como aconteceu em 2006. Quando Parreira saiu, houve uma série de críticas à preparação da seleção, principalmente em Weggis, onde os treinos mais pareciam concertos de rock. A resposta da CBF foi escolher um substituto linha-dura, que evitasse a repetição dos erros apontados. O que não deixa de ser curioso, porque se por um lado o excesso de peso de Ronaldo e Adriano era de responsabilidade da comissão técnica, a escolha da cidade suíça para a pré-temporada teve a participação direta do presidente.
Ricardo Teixeira foi muito criticado, por defensores e acusadores de Dunga, nos comentários publicados em posts anteriores deste blog. Concordo com alguns dos pontos levantados. A impressão que o presidente da CBF passou à opinião pública no período de preparação para a Copa de 2010 foi a de que, como presidente do comitê organizador da Copa de 2014, era com ela que estava preocupado, deixando o barco correr solto rumo à África do Sul. Se tivesse acompanhado o processo mais de perto, talvez não tivesse se espantado só agora, depois da eliminação, com o fato de que entre os 23 convocados por Dunga havia apenas um jogador com menos de 23 anos, em contraposição a países como Alemanha, Argentina e Gana, que trouxeram muito mais. Principalmente se levarmos em conta que a CBF investe pesadamente nas categorias de base, e que seus treinadores têm contato permanente com o da seleção principal.
A juventude parece ser o ponto principal do projeto 2014. Ricardo Teixeira citou abertamente o trabalho de Falcão, que ficou conhecido como laboratório e revelou para a seleção jogadores como Cafu, Márcio Santos e Leonardo, mas também fez uma legião de desconhecidos vestirem a camisa amarela sem conseguir resultados expressivos – o que, confirmou o presidente, causou a demissão do treinador. Teixeira pediu paciência à torcida e à imprensa, prevendo que os resultados vão demorar a aparecer.
A menção a Falcão foi a parte mais importante da entrevista, e certamente vai nortear as especulações sobre quem será o novo treinador. O que já parece certo é que jogadores como Neymar e Ganso, cobrados pelos detratores de Dunga, vão ganhar logo uma chance na seleção – possivelmente já nos amistosos de agosto. A associação a esses nomes fez alguns de meus colegas, que assistiam ao Bem, Amigos aqui na redação Globo/Sportv no IBC (o centro de mídia da Copa, em Joanesburgo), incluírem Dorival Júnior, comandante da dupla no Santos, na lista de candidatos. Outra corrente passou a ver com mais possibilidades o nome de Leonardo, porque se Falcão é o exemplo a ser seguido a experiência parece não ser tão importante (mas a contra-argumentação é de que a falta de experiência de Dunga foi muito contestada). E houve quem lembrasse que Ricardo Gomes já dirigiu uma seleção pré-olímpica (e quem contrapusesse que ele não conseguiu levar a geração de Diego e Robinho às Olimpíadas).
A especulação sobre quem será o técnico deve durar até o fim de julho, porque Ricardo Teixeira – como disse na entrevista – sabe guardar esse segredo. Mas, para mim, mais importante do que o nome é o projeto. O perigo da proposta de Teixeira é que seu escolhido exagere na renovação. Jogar uma Copa do Mundo em casa exige também experiência – do treinador e dos jogadores que ele convocar. A seleção brasileira da Copa de 2014 será a mais pressionada da história do futebol. A Alemanha reunida fez festa para Klinsmann pelo terceiro lugar. Quem imagina o mesmo cenário no Brasil? Nem mesmo 1950, com as manchetes de jornais anunciando o título na véspera e a frase famosa do discurso de Mendes de Moraes, então prefeito do Rio (”Eu prometi o Maracanã e o entreguei; agora, deem-nos a taça do mundo!”), serve de parâmetro. No ano do Maracanazo, só tínhamos o sonho de virar potência no futebol mundial; agora, somos os pentacampeões, e o planeta espera que vençamos a Copa em casa.
Por outro lado, uma seleção jovem pode vir a ser mais amada, principalmente se tiver mais convocados que atuam em clubes brasileiros. Concordo com os que dizem que um dos pontos positivos do trabalho de Dunga foi resgatar a vontade do jogador brasileiro de vestir a camisa amarela. Aos que estendem esse sentimento ao torcedor, já faço restrições. Quando a bola rola, o brasileiro torce pelo Brasil – quem quer que sejam seus representantes. O descaso dos astros de 2006 decepcionou muita gente, mas a postura da turma de 2010, que muitas vezes se achou mais digna do que as anteriores de defender o país, também incomodou uma parcela da torcida.
Assim como a CBF errou ao fazer de Dunga a antítese de Parreira, errará se quiser fazer do novo treinador a antítese de Dunga. Mesmo num profundo trabalho de renovação, é preciso manter os acertos de quem veio antes. Parreira montou um time ofensivo, dentro das tradições do futebol brasileiro. Dunga montou um time competitivo, dentro das exigências do futebol moderno. Ambos pararam nas quartas-de-final, por erros outros – o enfado dos craques de 2006, o nervosismo dos guerreiros de 2010. Já são duas Copas sem chegar às semifinais, e na próxima qualquer resultado que não seja o título causará uma profunda decepção. O novo treinador da seleção brasileira deverá levar tudo isso em conta se não quiser viver o trauma de outro de seus antecessores, Flávio Costa.
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