domingo, 24 de outubro de 2010

SONHO DE SER PROFESSOR

 

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Sonhava ser um dia uma profssora. Ainda criança, brincava de dar aulas para minhas amigas no fundo do quintal da minha casa. Meu pai e minha mãe me diziam que eu era inteligente e que eu iria ser professora. Eles lutaram, pondo-me nas melhores escolas, preparavam-me para que não me faltasse nada para alcançar êxito nos estudos, ameaçavam-me caso eu tirasse notas baixas na escola, eles também estimulavam para que eu me empenhasse cada vez mais nos estudos, elogiavam-me quando eu apresentava bons resultados no final de ano e me presenteavam por isso. Seus sonhos eram o de me ver sendo professora. Traí a vontade dos meus pais, pois com meus 17 anos, época que nos falta o juízo, enamorei-me de meu primo e começamos um namoro muito romântico. Daí então, engravidei e fui constituir minha prole. Meu pai disse: “Adeus sonho de ser professora!”, “agora, você vai ter que criar família!”.

 

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Naquela época, valia a pena ser professor. Valia a pena se questionar entre ser professor e criar família. Hoje, se meus pais ainda fossem vivos, diriam para mim: “Largue esta profissão, minha filha, ela não Serve para você. É melhor você cuidar da sua casa e de sua família e até mesmo de você!”

Meus pais morreram e nem sabem que me transformei em professora. Tenho certeza que eles não estão felizes em me ver professora. Tenho certeza que eles acompanham o meu calvário. Eles foram felizes ao me verem feliz no início da minha prática docente, porque até então nesta época, ainda se dava um valorzinho à educação. Ao passar de 12 anos na estrada do magistério, muitas coisas mudaram e com elas o pensamento dos profissionais da educação. Eles sabem do meu arrependimento. Eu era para ter rompido com o sonho deles e ter deixado morrer com eles na hora da sua morte. O que que eu queria ressucitando um desejo dos meus pais não mais em vida? Hoje penso em deixar a educação, não pela falta da paixão pela profissão e sim pelos males que ela nos acarreta no decorrer do tempo.

 

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EU ERA FELIZ QUANDO INICIEI MINHA CAMINHADA COMO DOCENTE.

Eu me contentanva em ver meu dia terminado com alegria por ter vencido os obstáculos encontrado em sala de aula. Naquela época, entre 1997 a 2000, as coisas eram diferentes na educação, falava-se nas implantações dos projetos pedagógicos da educação, PDE estava nascendo para nós, falava-se em melhorias na educação, um dos diretores de minha primeira escola pública que trabalhei (já morto) dizia que nós podíamos sonhar com uma educação de luxo, com salas com ar-condicionado, com professores munidos com laptop, com melhores alunos, com alto rendimento escolar, com alunos mais interessados, enfim, a escola e a profissão de todo sonhador. Fui na onda desse diretor. Hoje, estou acordada, com os olhos bem abertos, assistindo a um outro filme diferente. Vejo muitas iniquidades na educação, vejo que as melhorias e projetos aplicados apenas beneficiaram ao governo, ao aluno, aos pais dos alunos, menos a nós, professores, pobres professores, caliçados do giz, do pincel, caliçado da voz (cheia de calos), caliçados de sonhar um sonho que não se realiza.

 

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Eu achava muito legal o dia do professor. Neste dia, as homenagens nos faziam chorar de emoção, adorava receber os cartões de agrdecimento dos alunos, abraços dos professores e diretores, adorava ver um aluno com uma flor e uma mensagem na ponta da língua, adorava a brincadeira de amigo secreto no final do ano, adorava receber um livro das editoras, adorava saber que ia ter formação de professores, adorava saber que eu ia conhecer uma turma nova de alunos ou uma escola nova para lecionar. Hoje não se adora mais nada. Nada mais nos enaltece, nada mais é surpreendente, nada mais é tragado com amor, com carinho e com satisfação, porque tudo mais que nos chega agora não tem o mesmo sabor de antes. Já se sente os espinhos entre uma mensagem e outra, já se sente o repúdio por termos transformado a educação em um objeto de compra e venda, já se sente o desleixo pelo outro e a falta de ética entre todos, já sente o mal entre os mal educados, já se sente a ignorância prevalecendo entre os que se dizem serem educados.

Nessa categoria de professores, percebe-se a imundície de muitos formadores de bestas e de burros, há os que dizem saber muito e não sabem nada, há os que entram na educação para conseguir uma graninha para bicar seu dia-a-dia, há uns querendo entrar para derrubar os outros que já estão lá, há os aflitos por natureza e stressados que acham que vão resolver seus problemas, alinhavando a educação com princípios idiotas que protegem a eles próprios e não a educação como um todo. Há trabalhadores e há peões, há inferno e há céu, há vontade de desistir e vontade de começar, há vontade de dizer “CHEGA!” e há vontade de dizer “CHEGUEI!”, há os que fingem educar e os que nasceram educando, há os que querem somar e os que que querem incomodar, já os que querem fazer educação e os que ainda não sabem nada, há os que buscam uma fézinha no fundo do poço para que a educação lhes traga um retorno e há outros que não acreditam em mais nada. Eu estou inserida em alguns desses contextos, menos no de acreditar que tudo esteja totalmente perdido.

 

 

 

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A PALAVRA PROFESSOR, SEGUNDO CONSULTA NO DICIONÁRIO DA LÍNGUA PORTUGUESA, SIGNIFICA “Aquele que professa ou ensina uma ciência, uma arte, mestre”. Na realidade isso é muito bonito, mas na prática, vêem-se sinais de desvalorização do sujeito que educa, do que se apresenta como mestre. Levando-se em conta que o dia-a-dia de um mestre não está nada fácil nos dias de hoje, esse significado, carrega uma nova denotação. Professor signifca ser “sofredor”. Nas esferas mais elitizadas da educação, vêem-se professores, reclamando da sua profissão. Alguns, até, lamentam a má sorte de terem-se tornado professores. Esta é uma das profissões mais decadentes da nossa época e estamos com nossos dias contados. Os males da educação nos causaram infinitas frustrações, entre elas, o desejo hiprócrita de continuarmos na educação porque não temos outra opção.

DAS FRUSTAÇÕES DOS PROFESSORES QUE MAIS ACARRETAM MALES TEMOS:

 

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1) Professor stressado, vivendo um corre-corre pra lá e pra cá, sem tempo de dar atenção à família, sem tempo de dar atenção a ele mesmo, sem tempo de dormir, sem tempo de comer, sem tempo de estudar, sem tempo de corrigir tarefas, sem tempo para curtir, sem tempo para chorar, sem tempo de sorrir, sem tempo de curar as doenças, sem tempo de adoecer, sem tempo de fazer as compras, sem tempo de sonhar.

2) Professor tem problemas nas cordas vocais, tem gastrite por se alimentar mal e tomar fafé em damasia, tem tendinite no ombro e nos dedos por repetição do hábito de escrever, tem dores de cabeça, tem esporão de galo, tem problemas no calcanhar de muito ficar de pé, tem gripe e dores de garganta por pegar poeiras nos ambiente scontaminados e mal cheirosos, tem a pele seca por não se cuidar, tem os olhos cheios de doenças por apurar demasiadamente sua vista com leituras em ambiente não muito adequados, pega doenças viróticas por meio do contato com alunos infectados, tem problemas na coluna por viver sentado em má postura, corrigindo provas e elaborando aula, tem os pés inchados, devido a má circulação do sangue ao ficar bastante tempo de pé, tem ansiedade, tem nervosismo, tem stress, tem preocupação porque os alunos não aprendem nada, pois conversam demais em sala-de-aula, tem problemas auditivos, tem problemas de insônia, tem cansaço no corpo todo, tem tristeza ao ver o tamanho do salário que recebe no final-do-mês.

 

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3) Professor não tem expectativa de crescer profissionalmente pela falta de tempo para ampliar sua formação e pela falta de valorização de uma pós-graduação, não tem motivação para iniciar seu dia de trabalho, não é reconhecido pelos alunos e nem pelo grupo gestor da escola e nem tampouco pelas autoridades governamentais da educação, não pode alimentar esperança de comprar bens valiosos, como um carrinho, porque tem medo de não poder pagá-lo. Não tira férias com a família por mais de 3 dias, porque teme que o dinheiro não vai dar para as despesas, não consegue enxergar onde errou ao escolher ser professor, não tem chances de se defender, em meio as agruras do seu tempo e os percalços percorridos pelo mundo  afora, tentando encontrar um lugar definido na sociedade que lhe dê estabilidade de vida, não tem sossego emocional, porque visa migrar para outra profissão e não sabe qual, porque precisa começar tudo novamente do ponto onde começou errado.

4) Professor não é respeitado pelo público-alvo, pega salas de aula cheias de aluno, onde muitas vezes, não tem nem como caminhar entre eles, é forçado a obedecer regras impostas pela direção da escola, não pode agridir o aluno verbalmente, não pode tratá-lo mal, não pode enrolar a aula com conversar que poderiam quebrar o gelo da sala-de-aula, não pod e vestir-se mal, não pode faltar, não pode adoecer, não póde reprovar o aluno, não pode chegar atrasado, não pode ganhar um pouquinho mais que o que recebe normalmente (mísero salário), não pode deixar de ser um cumpridor de seus deveres, não pode deixar de ser comprometido com a educação, não pode deixar de ser palhaço e não pode deixar de ser psiquiatra e louco aomesmo tempo.

 

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5) Professor é atacado moralmente pelos alunos, pelos colegas professores, pelo grupo gestor, por pais de alunos, sem condição de defesa, professor está sempre errado, a ética não é respeitada, a profissão não é respeitada, os filhos dos professores não querem ser professores, nossos filhos não querem ser professores, os filhos dos próprios alunos(de maior idade) não querem ser professores, os pais dos alunos que não são formados recebem melhores salários que os professores de seus fihos, professor é carrasco, professor é caxias, professor é palhaço, professor é perdedor de notas dos alunos, professor é ignorante, enfim, tudo de mau o professor tem na opinião dos alunos que não querem estudar e que não foram com a cara do professor, para que o aluno vá com a cara do professor, este deverá conquistá-lo no primeiro dia de aula, ou seja, tem que ser besta e continuar fazendo o papel de palhaço.

 

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6) Professor cobra uma miséria em uma hora de aula particular para o aluno e ainda está cara a aula, uma fonoaudióloga cobra trinta reais apenas numa consulta, falando um montão de besteiras que todo professor já sabe e tudo isso em 40 minutos. Quando vai dar assistência ao tratamento, abrindo sessão de fono ao professor, cobra-lhe mais 30 reais por mais 40 minutos e não se cansa, não se inferniza, não se stressa, não é desrespeitada, não é mal paga, não necessita virar palhaça, não necessita fazer greve de fome, não necessita elaborar provas escritas, não necessita ser caxias, ser carrasca e babar o cliente com medo de perdê-lo, não adoece pela profissão, enfim, outras áreas do conhecimento humano são menos radicais quando acessadas profissionalmente. Portanto, podemos concluir que é uma vergonha ser professor nos dias de hoje. Ao fazer uma compra no comércio de Fortaleza, o vendedor nos pergunta “Qual é sua profissão?” É nós respondemos com muita vergonha: “Somos  professores.” E ainda, completamos com sapiência, para ver se a compra tem seu valor reduzido: “Você sabe que o salário de professor não é lá estas coisa, né!”. Óbvio, que o vendedor se põe a rir diante de nós e de nós, claro. Mas não só temos vergonha de sermos professores, não. Temos também vergonha de sermos BRASILEIROS. As políticas educacionais brasileiras não visam o sucesso e a felicidade dos profissionais da educação e sim os ganhos extras que vão para os fundos educacionais brasileiros e para os cofres do ESTADO e das PREFEITURAS.

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ALERTA AOS NOSSOS GOVERNANTES:

Parem de pensar que somos bestas! Se um dia, todos decidissem parar a educação, muitos males piores iriam ser gerados, transformando-se numa catástrofe geral. Aí então, vocês teriam que dar conta de um número maior de usuários de drogas, as notícias nos jornais de circulação diária iriam mostrar o retrato falado de um país em desespero, onde pessoas iriam usar a prática do mal para justificar o ócio. Bem feito seria se isso realmente acontecesse. O provérbio “Nós só fechamos as portas quando somos roubados.” revela um significado que explica a nossa indignação. O governo só iria melhorar a educação ao ver seu povo marginalizado e cada vez mais violento. AGUENTA!, BRASIL, DOENTE CRÔNICO! BRASIL DAS MISÉRIAS!!! BRASIL DA INCOMPETÊNCIA ADMINISTRATIVA! BRASIL DE DEMENTES! BRASIL DE CORRUPTOS! BRASIL DO SAMBA E DO CARNAVAL DE RUA! BRASIL DO FUTEBOL E DA MULHER BONITA! BRASIL DE POVO PASSIVO SEM GRITO! BRASIL DE BRASILEIROS SEM VOZ E SEM VEZ! BRASIL DE 3º MUNDO! BRASIL DE MUITAS RIQUEZAS, PORÉM DE POVO POBRE E DESIGUAL! BRASIL DE ACOMODADOS! BRASIL DE POVO JOVEM E ILUDIDO! BRASIL DESARMADO E SEM FORÇA PRA LUTAR CONTRA AS INTEMPÉRIES DO PODER! BRASIL QUE NÃO DESATA O NÓ! BRASIL QUE NÃO INVESTE NA EDUCAÇÃO E NA VALORIZAÇÃO DO PROFISSIONAL DA EDUCAÇÃO.

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2 comentários:

  1. Tudo o que você escreveu tem a ver com a minha realidade e eu concordo com você em tudo. A situação é triste, dá até vergonha. Sinto um arrependimento enorme de ter escolhido essa profissão e olha que só tenho pouco tempo na área. Adoro o que faço, mas infelizmente, já decidi que vou mudar de profissão! Moro em uma cidade aqui no Pará( Tailândia) em que o salário do professor é vergonhoso e os governantes ainda querem ferrar mais a gente reduzindo nosso salário! Eu estou tremendamente chateada, tô p... mesmo e isso é um desabafo! Desabafo de quem não aguenta mais tanta humilhação!!! Daqui há pouco professor vai ser profissão em extinção e tomara que isso aconteça mesmo, aí vão dar valor à categoria. Eu quero ter uma vida saudável, não quero ter câncer de garganta, nem hipertensão, não quero ficar estressada nem paranóica. Quero tempo para minha família, quero respirar!!!!!!!!!! Prefeito de Tailândia, quero ver o Sr. viver com o salário que me propões!! Ature esses alunos que fazem parte do seu belo "povo", aguente o calor das salas sem climatização,preencha os diários sem errar nada e se errar, não passe corretivo, faça de novo! O Sr.não dura um dia!!

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  2. Concordo com você e tudo isso vai aumentando minha vontade de trocar de área. Tenho 23 anos e estou dando aula há 3. Já não sei se quero isso pra sempre.
    O que me sugere?

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