sábado, 21 de maio de 2011

ENSINO E APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESTRANGEIRA

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ENSINO E APRENDIZAGEM DE LÍNGUA ESTRANGEIRA

CURSO DE MESTRADO (STRICTO SENSU)

CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO

DISCIPLINA: TUTORIA EM DIDÁTICA E METODOLOGIA DE ENSINO DE LÍNGUAS E LITERATURA

DOCENTE: PROF. DENILSON PORTÁCIO

ALUNO (A) : FLORÊNCIA CARNEIRO BATISTA

Turma: 2

AGOSTO-2010

ENSINO E APRENDIZAGEM DE LÍNGUA ESTRANGEIRA

SUMÁRIO:

CAP. 1 LÍNGUA COMO ELEMENTO DA COMUNICAÇÃO

CAP. 2 ENSINO DA LÍNGUA ESTRANGEIRA

2.1 ENSINO DE LÍNGUAS NO BRASIL

CAP. 3 A AQUISIÇÃO DA LÍNGUA ESTRANGEIRA

3.1 INTERRELAÇÕES ENTRE ASSIMILAÇÃO E ESTUDO FORMAL

DA LÍNGUA ESTRANGEIRA

BIBLIOGRAFIA

ENSINO E APRENDIZAGEM DE LÍNGUA ESTRANGEIRA

RESUMO

Esse artigo se propõe, em primeira mão, a definir o que é linguagem numa abordagem comunicativa e intercultural. A partir dessa definição, tem-se o esboço sobre o que é língua, sua importância para uso profissional e pessoal num mundo exigente, competitivo e globalizado.

Numa segunda instância, destacam-se os vários tipos de ensino da língua estrangeira, ressaltando os vários matizes pelos quais passam a educação no ensino de línguas e suas especificidades.

Por último, faz-se uma abordagem da aquisição da língua, levando-se em conta os fundamentos teóricos à guisa de autores como Krashen e Schütz e outros.

A título de informação, utilizam-se os PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS DA EDUCAÇÃO como marco teórico de maior valor para refletir sobre a prática de ensino de língua estrangeira, conforme pregam as leis de Diretrizes e Bases da Educação no Ensino Fundamental e Médio, com o propósito de relacionar os assuntos tratados, fundamentados na claridade dos registros que lhes dão firmeza e veracidade absolutas.

No capítulo 1, teve-se a preocupação, em linhas gerais, de discorrer sobre língua como elemento comunicativo, valorizando-se os aspectos mais relevantes na necessidade de aquisição do idioma estrangeiro para o social, pessoal e profissional. Já no capítulo 2, cria-se um espaço relativo ao ensino da língua estrangeira, reforçando a importância dessa prática, tendo como principal mediador: o professor. Por último, no capítulo 3, como não poderia deixar de faltar, trata-se da aquisição da língua estrangeira, numa abordagem de cunho científico à guisa dos autores, mencionados anteriormente.

Espera-se que a partir da leitura desse artigo, busque-se luz e clareza no campo de ensino de línguas, permitindo mudanças metodológicas, para o alcance de resultados positivos, sem negligenciar o que temos de melhor e de mais importante: o aluno. Um ser físico, de mente pensante e de alma boa, inconstante, passivo, sentimental, humano, ávido de conhecimento e que confia plenamente no mestre e nos seus ensinamentos.

Palavras-chave: linguagem – língua – ensino – cultura – comunicação – aquisição - aprendizagem

ENSINO E APRENDIZAGEM DE LÍNGUA ESTRANGEIRA

1. LÍNGUA COMO ELEMENTO DA COMUNICAÇÃO

A linguagem é a principal característica que diferencia o homem dos demais animais. Nós, homens, temos a capacidade de articular significado a signos arbitrários em diversos sistemas de representação, chamados língua. E esse sentido é adquirido mediante o contexto e a interação estabelecida.

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais,

A linguagem é o meio pelo qual uma vasta gama de relações são expressas, e é indiscutível o papel que ela desempenha na compreensão mútua, na promoção de relações políticas e comerciais, no desenvolvimento de recursos humanos. (BRASIL, 1998, 38-9)

Dias (2007) complementa:

Se a linguagem é, com efeito, uma atividade altamente complexa e de caráter social, que se desenvolve em contato com outros membros da comunidade e que tem como função prioritária a comunicação com nosso semelhante, então pode ser ela independente do todo, ou seja, do contexto no qual se desenvolvem as ações desses indivíduos, e a compreensão deste desenvolvimento passa, sem dúvida, pelo estudo apurado do contexto em que se produz.

Dessa forma, temos a língua como o veículo de comunicação de maior referência para todo e qualquer povo. Mais que um elemento de comunicação, é um elemento transmissor de cultura. Portanto, podemos defini-la como um veículo de comunicação de um povo, sendo utilizada para transmitir sua cultura, suas tradições e conhecimentos.

De acordo com Schütz (2009), a língua “é também o principal instrumento de desenvolvimento cognitivo do ser humano.” Afinal, esta é usada como meio de expressão, representando a comunicação oral e escrita; para analisar, interpretar e aplicar recursos de linguagem, através de investigação, compreensão e contextualização sócio-cultural.

É ela um mecanismo que envolve o individuo e suas estruturas mentais, emocionais e perceptivas. E estes elementos anteriormente citados são muito importantes quando nos referimos ao processo de aquisição de uma língua, e em especial, a uma língua estrangeira.

Quando tratamos de língua estrangeira, esta assume uma responsabilidade ainda maior, sendo também considerada como um instrumento de compreensão do mundo, de inclusão social e de valorização pessoal.

Dentro dessa perspectiva de conhecimento globalizado, hoje cada vez mais observamos o interesse da comunidade por aprender uma língua estrangeira. Não que esse interesse seja recente, pois ao longo de nossa história percebemos o interesse pelo estudo das línguas, desde as clássicas – grego e latim – às mais recentes: francês, alemão, inglês, italiano, e agora também, o espanhol.

Esse interesse pelas línguas estrangeiras pode ser explicado tanto pela necessidade de exigências estabelecidas pelo mercado de trabalho, dentro da perspectiva da globalização e das economias mundiais que se encontram cada vez mais relacionadas, como a necessidade de desenvolver e ampliar as possibilidades de acesso ao conhecimento científico e tecnológico produzido por esses países, assim como também a necessidade e o desejo de conhecer novas culturas.

Hoje, cada vez mais em nossa sociedade, percebemos a valorização do conhecimento em língua estrangeira. Esta crescente importância que as línguas estrangeiras têm na vida dos indivíduos, em sua grande maioria, se deve a exigência no âmbito profissional, propiciando a ascensão do indivíduo nesta mesma sociedade, sendo também utilizado como meio de integração, a fim de fazê-lo interagir como cidadão. No que se refere à língua inglesa, temos, especificamente, a necessidade voltada ao mercado de trabalho e a possibilidade de conhecer uma nova cultura.

Mas, ensinar uma língua estrangeira, não é tarefa simples. Requer tanto conhecimento teórico quanto o desenvolvimento de diversas habilidades, dentre elas, a adequação do texto/contexto à situação. Essas mudanças acontecem na busca de adaptar-se às exigências e complexidades da sociedade atual.

2.ENSINO DA LÍNGUA ESTRANGEIRA

Em se tratando do ensino de línguas, faremos uma breve retrospectiva. Segundo a cronologia, inicialmente priorizou-se o interesse pelas línguas gregas e latinas. Posteriormente, deu-se ênfase às línguas clássicas e, as línguas modernas foram bem aceitas socialmente e consideradas como disciplinas somente após o século XVII. Ainda assim, apenas no século XIX tem-se uma abordagem cientifica das mesmas. Já no século XX, mais especificamente nos anos 70, tem-se uma abordagem nocional/funcional da língua estrangeira. Vejamos o que Celani (2001) nos diz a respeito:

Daí surgiu um dos movimentos mais interessantes no ensino de língua estrangeira, iniciado pelo Conselho da Europa em 1971 e tendo em vista o aluno europeu adulto, principalmente o imigrante. Pode-se dizer que a abordagem instrumental de ensino de línguas para fins específicos teve origem no trabalho desse grupo. Nessa época, também, começa-se a ouvir falar de uma abordagem chamada comunicativa, vagamente definida, mas claramente privilegiando o ensino da língua como meio de comunicação. (LEFFA, 2001, 30)

Não se pode falar em ensino de línguas sem falar na aprendizagem da mesma. Para falar de aprendizagem de língua, deve-se de antemão definir os elementos cognitivos envolvidos no processo. De acordo com o minidicionário da língua portuguesa de Ruth Rocha (1996, 147) , os termos cognatos referentes a cognitivo são: “cognição” sf Aquisição de conhecimento, “cognoscitivo” adj Que adquire conhecimento e “cognoscível” adj 2g Que se pode conhecer. Existe o ser em ação que é o que tem a necessidade de adquirir conhecimento. Partindo desse pressuposto, aprendizagem é, portanto, o processo no qual o indivíduo se apropria de habilidades, atitudes , informações e valores a partir do contato com a realidade, com o meio ambiente e com as pessoas.

Para a orientação do ensino de línguas estrangeiras, temos ainda os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), que buscam a valorização completa do idioma, assumindo como função maior a de contribuir para a formação do cidadão. Vejamos:

A partir do momento em que o estudante desenvolve tais competências e habilidades de forma integrada, desenvolve-se também sua consciência intercultural. (...) Dessa forma, um amplo tema gerador pode levar a reflexões de origem bastante variada: lingüística, sociocultural, sócio-econômica, política, discursiva etc. (PCN – Língua Estrangeira, 1998, p. 152)

Portanto, foca-se num ensino voltado à perspectiva interdisciplinar e relacionado aos contextos reais. Devem-se explorar conteúdos específicos da linguagem concomitantemente com o componente cultural e a partir de então refletir sobre o uso da língua a partir de seu contexto significativo e que este aconteça de forma transversal, gerando uma conscientização dos valores sócio-culturais. Assim, através dessa prática intercultural, proporcionamos a sensibilização cultural em prol do aperfeiçoamento lingüístico, sendo também possível eliminar esteriótipos e preconceitos.

Porém o que acontece é que muitas vezes o professor se depara com a apatia dos alunos que não lhe dão um feed back de suas aulas. Cabe então ao professor evoluir e avançar na sua prática, na tentativa de conquistar e reconquistar a confiança e a amizade de seus alunos, tornando-os motivados e interessados nas aulas. Sair um pouco das aulas tradicionais e promover momentos de prazer aos alunos é um processo de ensino-aprendizagem que, integrado ao uso da língua em estudo, constrói vínculos de harmonia entre educandos e educador.

Valendo-se da concepção de Vygostky, e de seu caráter social da língua, da concepção sócio-interacionista e do multiculturalismo, o professor deve aliar as teorias e concepções disciplinares, psicopedagógicas e sócio-políticas, aliando-as às capacidades intelectuais, afetivas e sociais, adequando conteúdos, métodos e formas de interação. Tudo a partir de uma reflexão criteriosa por parte do docente. Para sua prática docente o professor pode e deve utilizar-se de todo e qualquer material, seja ele, autêntico ou não. Podemos citar como exemplo: os manuais didáticos, jornais, revistas, folhetos, mapas, fotos, músicas, jogos, vídeos, textos em geral, sites de internet, material multimídia etc.

O professor também assume o papel de mediador cultural. Observe o que Serrani menciona a respeito:

O perfil do profissional que [...] chamarei de professor de língua como interculturalista corresponde a um docente [...] apto para realizar práticas de mediação sócio-cultural, contemplando o tratamento de conflitos identitários e contradições sociais, na linguagem. (SERRANI, 2005, p. 15)

Porém, como há pouco espaço para o ensino do componente cultural e escassez de efetivos enfoques culturais, há ainda dificuldade para garantir que o componente sócio-cultural tenha um papel significativo nas aulas de língua. Contudo, é necessário estabelecer essas pontes culturais.

2.1 ENSINO DE LÍNGUAS NO BRASIL

No que diz respeito ao ensino de línguas no Brasil, podemos dizer que aconteceram mudanças significativas nos últimos anos. Em 1995 surgiu um documento que abordava a necessidade de integrar o ensino de língua estrangeira ao contexto escolar, e de ampliar sua função formativa, concorrendo, assim, para o desenvolvimento global do indivíduo. Isso acontece exatamente no momento em que aprender uma LE deixa de ser monopólio das elites dominantes, passando, de certa forma, a ser acessível a todos os estudantes, fazendo-os, portanto, conhecer uma língua estrangeira moderna. Já em 1998, com a reformulação da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) e com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) observamos a implantação de uma nova visão à educação. Esta deve privilegiar, entre outros, os temas transversais. Dessa forma, é possível trabalhar língua estrangeira associada à geografia, à história etc. Podemos dizer que tudo, deve-se, em parte, a globalização. Hoje, buscam-se sujeitos portadores de conhecimentos múltiplos, com visão abrangente e curiosidade aguçada.

Quando falamos de educação contemporânea devemos destacar uma educação na busca do exercício da cidadania, onde o indivíduo é capaz de comunicar-se, de compreender, de saber buscar informações, interpretá-las e argumentá-las. É importante destacar também as questões culturais, pois como sujeitos de um mundo centrado na cultura, os indivíduos, ao chegarem à escola, já estiveram expostos à experiências culturais e as assimilaram, gerando assim seu conhecimento de mundo.

Que existe a necessidade de inserir uma língua estrangeira no contexto escolar, essa idéia é unânime. Mas como, para que e para quem fazê-lo? Baseado em que idéias? O que deve ser prioridade? Que metodologia seguir?

Percebemos aqui que ensinar uma língua estrangeira não se trata apenas de conhecer os elementos lexicais que compõem um idioma, mas principalmente de saber utilizá-los adequadamente. E mais, não cabe apenas ao professor o papel de agente. Na verdade, é nesta perspectiva de troca, de ação e interação entre professor-aluno-conteúdo que se dá a construção do conhecimento.

Se fizermos um panorama histórico do Brasil, sua história esta diretamente associada ao ensino das línguas. Iniciou-se com a inserção da Língua Portuguesa aos nativos, índios, e, posteriormente, com o ensino das línguas neo-latinas, como por exemplo, o francês, anos mais tarde substituído pelo inglês, a língua do comércio em expansão.

Ou seja, ensinar uma língua estrangeira hoje requer uma metodologia diferenciada, que esteja focada na motivação, buscando uma formação humanística do aluno. Da parte do aluno exige-se uma atitude de eterno pesquisador, e por parte do professor que este seja reflexivo, e que contextualize sua prática de acordo com os objetivos estabelecidos por ambas as partes. Somente dessa forma o ensino de LE adquire sua verdadeira função social, contribuindo assim para o exercício da cidadania, formando e modificando atitudes na tentativa de construir um mundo melhor.

Mas como fazer tudo isso em um espaço de tempo tão pequeno, uma vez que a língua estrangeira ainda possui espaço reduzido frente a outras disciplinas? Que temas abordar? O que realmente os alunos precisam aprender? Como inserir conhecimentos variados durante as aulas?

Uma vez que trabalhamos numa perspectiva sócio-interacionista é necessário, portanto, abordar aspectos culturais, aspectos lexicais, variantes lingüísticas, e acima de tudo, que estes conteúdos tenham significado real para os estudantes. Os alunos, por sua vez, devem estar motivados, interessados e dispostos a conhecer e compartilhar os novos conhecimentos. Assim, teremos uma atuação e participação efetiva do grupo.

Falamos aqui em metodologia diferenciada e motivação. Cabe ao professor usar metodologias diversas de acordo com o nível, faixa etária e objetivos de seus alunos. Assim como também, criar mecanismos para que estes se sintam motivados. Motivar o aluno, se é que podemos assim dizer, uma vez que este é um mecanismo próprio de cada indivíduo, é dar a ele condições de deixar fluir de dentro para fora seus propósitos, necessidades e interesses que o conduzem à ação no idioma de chegada, dependendo de estímulos externos e das condições biopsicológicas desse aluno. Esta pode variar de pessoa para pessoa em situações internas e/ou externas diferentes. E sabemos o quão importante é o entusiasmo do aprendiz para seu processo de aprendizagem. Por isso podemos dizer que um professor bem preparado deve motivar-se e sempre manter motivados os seus alunos.

Mais uma vez recai sobre o professor o papel de agir para que se tenha bom rendimento com relação ao aprendizado. E mais uma vez menciona-se a questão da reflexão da pratica do professor exercitada pelo próprio profissional. Este deve agregar as competências adquiridas separadamente, atuando como agente social, favorecendo o enfoque intercultural a fim de integrar estes formando o todo de forma a dar frutos promissores dentro da perspectiva de aprendizado. Afinal, esta é uma das características primordiais da língua: a de exercer a função de veículo fundamental na comunicação entre os homens, sendo uma das formas pela qual este tem acesso ao conhecimento, construindo para si e para a coletividade uma formação mais abrangente e sólida.

Hoje há uma grande preocupação com estes aspectos uma vez que o ensino da língua estrangeira está voltado para a vivência real e para o enfrentamento dessa diversidade existente entre povos que possuem o mesmo idioma. A partir daí, o professor possui uma diversidade de temas geradores que podem e devem ser abordados nas aulas de língua como LE, desde que estes também coincidam com os objetivos de conteúdos pré-estabelecidos

Vimos que a língua, ainda que um sistema estabelecido a partir de convenções e simbologias possui papel muito significativo em toda e qualquer sociedade, tornando-se seu principal instrumento de comunicação social. Ela está sempre carregada de sentido, de ações, de emoções, de significados. Para Bakhtin (1981), “as palavras são tecidas a partir de uma multidão de fios ideológicos e servem

3. A AQUISIÇÃO DA LÍNGUA ESTRANGEIRA

A aquisição da linguagem é especifica da espécie humana. A aprendizagem de uma Língua Estrangeira está atrelada a dois conceitos básicos. O primeiro chama-se Language Acquisition, ou seja, assimilação. Sua função é desenvolver a interação lingüística como indivíduo sócio-cultural independente do nível de conhecimento da estruturação da língua. A pessoa se familiariza, participa do convívio absorvendo conhecimentos práticos por meio de habilidades oral e indutiva, ou seja, a função da língua é o uso real na comunicação em conteúdos de vivencia do cotidiano, com ênfase na memorização, pois dessa forma as ocorrências de fala são mantidas e internalizadas na memória daquele que aprende. Este conceito está diretamente relacionado a um plano pessoal-psicológico.

De acordo com Schütz (2007), a language acquisition “refere-se ao processo de assimilação natural, intuitivo, subconsciente, fruto de interação em situações reais de convívio humano, em que o aprendiz participa como sujeito ativo.” O termo Language Learning refere-se ao estudo dos elementos gramaticais da língua e das regras que normatizam as estruturas lingüísticas. O aluno acompanha as explicações, vê todos os tópicos, vocabulário, frases elaboradas, mas não assimila para pôr em prática o que supostamente foi aprendido.

A ênfase, neste momento, está no cumprimento da grade curricular (plano de curso da escola). O aluno pode ate conhecer a estrutura da língua, mas não tem a habilidade de comunicar-se por meio dela. Este conceito de aprendizagem está diretamente relacionado a um plano técnico-didático, delimitado pelos conteúdos. Nota-se a passividade do aluno, como mero receptador do conhecimento que lhe é passado. Segundo Schütz (2007), o language learning

está ligado à abordagem tradicional do ensino de línguas, assim como é ainda hoje geralmente praticada nas escolas de ensino médio. A atenção volta-se à língua na sua forma escrita e o objetivo é o entendimento pelo aluno da estrutura e das regras do idioma através do esforço intelectual e de sua capacidade dedutivo-lógica. A forma tem importância igual ou maior do que a comunicação. [...] Ensina-se a teoria na ausência da pratica. [...] É um processo progressivo e cumulativo, normalmente atrelado a um plano didático predeterminado, que inclui memorização de vocabulário e tem por objetivo proporcionar conhecimento metalingüístico.

Stephen Krashen distingue esses dois conceitos de aprendizagem segundo seu pensamento hipotético. Vejamos:

learning/acquisition, estabelece uma distinção clara entre learning (estudo formal - receber e acumular informações e transformá-las em conhecimento por meio de esforço intelectual e de capacidade de raciocínio lógico) e acquisition (desenvolver habilidades funcionais através de assimilação natural, intuitiva, inconsciente, nas situações reais e concretas de ambientes de interação humana) e sustenta a predominância de acquisition sobre learning no desenvolvimento de proficiência em línguas.

Compreende-se, portanto, que a criança tem mais facilidade de aprender mais rapidamente e assimilar o aprendizado de uma língua estrangeira do que um adulto. Para tanto, parte-se do principio de que a criança não é provida da capacidade de formalizar e estruturar a língua, mas inconscientemente ela desenvolve a capacidade de interação lingüística por meio da linguagem que ela própria já se apropriou em sua mundivivência com as demais pessoas que a cercam.

Além disso, cabe salientar que o adulto passou por grande percurso do seu desenvolvimento cognitivo, apropriando-se de uma bagagem maior de conhecimento acumulado, sabe lidar facilmente com conceitos abstratos e hipóteses. Em contrapartida, a cognição da criança ainda, em fase de construção, necessita de experiências concretas e de percepção direta. Isto explica o grau de capacidade do adulto em compreender as estruturas gramaticais da língua estrangeira e compará-las às de sua própria língua materna.

Talvez por isso a preocupação de oferecer obrigatoriedade ao ensino de LE a alunos a partir do Ensino Fundamental II. Veja o que os PCNs mencionam a respeito:

Os primeiros contatos com a aprendizagem de inglês de maneira formal, sistematizada, ocorrem para a maioria dos nossos alunos, no inicio do terceiro ciclo, período em que de modo geral, enfrentam conflitos, representados por transformações significativas relacionadas ao corpo, à sexualidade, ao desenvolvimento cognitivo, à emoção, à afetividade, além dos relacionados aos aspectos socioculturais. Torna-se bastante difícil traçar um perfil do aluno que chega ao terceiro ciclo, tanto em relação aos aspectos afetivo-emocionais que marcaram esse período quanto em relação aos diferentes conhecimentos de língua materna que possuem e os diferentes níveis de familiaridade que apresentam em relação à língua estrangeira. (BRASIL, 1998, 53)

3.1. INTERRELAÇÕES ENTRE ASSIMILAÇÃO E ESTUDO FORMAL DA LÍNGUA ESTRANGEIRA

As línguas representam sistemas comunicativos que por sua vez apresentam graus de irregularidades e dificuldades no processo de aprendizagem. Às vezes o IMPUT não ocorre por infinitos motivos. Um deles é a predominância de outras línguas a que nós chamamos de bilingüismo. A esse respeito, cabem aqui as seguintes afirmações. Segundo Mackey (1970:569), interferência é o uso de traços pertencentes a uma língua enquanto falando ou escrevendo uma outra, podendo ocorrer nos níveis fonológico gramatical ou cultural. Já segundo Grojean (1982:299), estudando as características da fala de bilíngües, define interferência como influência involuntária de uma língua na outra, de modo a distingui-la de outras características freqüentemente presentes na fala de bilíngües.

Diante da complexidade arbitrária dos fenômenos que envolvem o aprendizado de língua estrangeira, faz-se necessário familiarizar-se com o idioma, desenvolver o controle intuitivo na sua forma oral até atingir a total assimilação. Esta é uma das teorias proposta por Krashen (1987). Para ele, havendo regularidade na língua, se pode estabelecer regras que possam ser úteis para o aprendiz produzir e monitorar sua linguagem. Por outro lado, quanto menor a regularidade, tanto menor o número de regras e a utilidade das mesmas. Os graus mais acentuados são os de sinalização fonética e o da acentuação tônica das línguas. Muitas vezes estes graus de irregularidade implicam numa ineficiência na aprendizagem da língua. Neste caso, o monitoramento só será eficaz se o aluno-aprendiz estiver desenvolvendo, em paralelo, sua familiaridade e sua habilidade com a língua em ambientes próprios.

Na verdade, o que se põe em evidência é que à medida que a língua apresenta mais regularidade, a tendência é aumentar os níveis de assimilação. Por isso é que muitos alunos questionam o aprendizado entre as duas línguas: inglesa e espanhola. Esta última está mais próxima de realização comunicativa por sua semelhança com a língua materna, no caso, para os brasileiros, a língua portuguesa. Nesse contexto, dir-se-á que o espanhol é para os que falam o português, um idioma que mantém regularidade na sua estruturação e vocabulário.

Portanto, aprender uma língua estrangeira cheia de irregularidades exige uma boa performance do falante no sentido de monitoramento. Segundo a hipótese monitor de Krashen, monitoramentos são esforços espontâneos e criativos de comunicação decorrentes de nossa capacidade natural de assimilar línguas quando em contato com elas, são policiados e disciplinados pelo conhecimento consciente das regras gramaticais da língua e suas exceções. A eficácia do monitoramento da fala é proporcional ao grau de regularidade encontrado na língua. Existem dois aspectos que implicam no monitoramento: a introversão x extroversão.

No primeiro tipo, considera-se a personalidade do falante – aprendiz. Muitas vezes o aprendiz se introverte pela insegurança ou falta de confiança na aprendizagem de línguas e termina cometendo erros ou se desmotiva em seguir o caminho já iniciado, o contrário, quando ele se extroverte, ou seja, fala enfrentando os riscos de fala, este não se policia diante das regras da língua e termina cometendo mais erros do que até o que se introverte e se preocupa com a forma da língua. Conclui-se que, aqueles que se introvertem pouco se beneficiarão de um conhecimento da estrutura da língua e de suas irregularidades.

Pelo contrário, no caso de língua com alto grau de irregularidade como o inglês, por exemplo, poderão desenvolver um bloqueio que compromete a espontaneidade devido à consciência da alta probabilidade de cometerem erros. Por outro lado, pessoas que tendem à extroversão, a falar muito de forma espontânea e impensada, também pouco se beneficiarão do learning, uma vez que a função de monitoramento é quase inoperante. Os que se beneficiarão do learning são as pessoas mais normais e equilibradas, que sabem aplicar a função de monitoramento de forma moderada.

Numa situação real de comunicação, o monitoramento só funcionará se ocorrer em três condições simultâneas a saber: Preocupação com a forma, com a existência e o conhecimento das regras e com tempo suficiente. No primeiro caso, a pessoa não deve dar atenção apenas na parte comunicativa, na mensagem ou conteúdo, mas principalmente, na forma, ou seja, na estrutura da língua. No segundo caso, a pessoa deve ter conhecimento das regras e exceções que pousam no estudo da língua, pois a língua é apoiada na gramática e nestas regras. Já no último caso, a pessoa deve ter esse tempo para avaliar as alternativas com base nestas regras, fazer distinção entre uma regra e outra e conhecer as exceções. As pessoas que tendem a se beneficiar, no aprendizado de línguas, são aquelas que têm a personalidade no ponto intermediário entre a introversão e a extroversão e que conseguem aplicar as funções de monitoramento de forma moderada, simultânea e eficaz.

No que se refere a extroversão, há a distinção entre a aprendizagem da língua e a aquisição da língua. O primeiro é descrito pela preocupação de se seguir um pacote didático com o estudo conteudista e de regras, já o segundo, ao contrário do primeiro, não segue um pacote didático, não há preocupação em seguir o currículo e sim é uma forma espontânea e comunicativa e de interação no convívio ambiental com o nativo. Com isso, Krashen (1987) conclui que

Language acquisition é mais eficaz do que language learning para se alcançar habilidade funcional na língua estrangeira, e que o ensino de línguas eficiente não é aquele atrelado a um pacote didático predeterminado nem aquele que utiliza recursos tecnológicos, mas sim aquele que é individualizado, em ambiente bicultural, que explora as habilidades pessoais do facilitador em criar situação de comunicação real voltadas às áreas de interesse do aluno. (KRASHEN, 1987)

Portanto, para um ambiente de sala de aula onde busca-se o ensino da língua estrangeira de forma instrumental, o mais indicado é que aconteça o language learning. É o caso de nossa realidade quando tratamos do ensino de LE nas escolas de ensino fundamental.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAKHTIN, M. Marxismo e Filosofia da Linguagem. São Paulo: Hucitec, 1995.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua estrangeira. Brasília, MEC/SEF. 1998.

BRASIL. Presidência da República. Lei nº 11.161, de 5 de Agosto de 2005: Dispõe sobre o ensino da língua espanhola. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11161.htm.

CEARÁ. Secretaria de Educação. ¿Por qué aprender español? In Primeiro aprender: Língua Portuguesa, História, Filosofia, Arte, Sociologia, Educação Física, Língua Espanhola, Língua Inglesa. Caderno do Aluno, vol. 1. Fortaleza: SEDUC, 2009.

KRASHEN Stephen D. Principles and Practice in Second Language Acquisition.  Prentice-Hall International, 1987.

KRASHEN Stephen D. Second Language Acquisition and Second Language Learning.  Prentice-Hall International, 1988.

LEFFA, Vilson J. O ensino de línguas estrangeiras no contexto nacional. Contexturas, Apliesp, n. 4, p. 13-24, 1999. (www.leffa.pro.br)

ROCHA Ruth- MINIDICIONÁRIO- 10ª edição- editora scipione-1996

SERRANI, Silvana M. A Formação do Professor e Currículo de Línguas. In: ____ Discurso e Cultura na aula de língua: Currículo, Leitura, Escrita. Campinas: Editora Pontes, 2005, p. 13-58.

BIBLIOGRAFIA ELETRÔNICA

www.wikipedia.org

www.leffa.pro.br

www.terra.com.br (http://www.terra.com.br/revistaplaneta/mat_398.htm)

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